10 julho 2015

Aventura ou Pesadelo?

STOP OR PLAY? 


PLAY OR STOP?



     Quem está seguindo o blog, deve saber o sufoco que passei no primeiro mês. Porém, quem está lendo pela primeira vez e ficar curioso, pode procurar ali na página inicial o post "30 DIAS".  
     Desde pequena, sempre ouvia minha avó dizendo que "alegria de pobre sempre dura pouco". Não sei vocês, mas eu sempre tive aquela impressão de que vai acontecer com os outros e não comigo. E, de vez em sempre, acaba acontecendo comigo. Pois bem, o post de hoje vai ser bem mais longo do que os anteriores, pois tenho muito a contar e já aviso: nem tudo são flores! 

Voltando um pouco no tempo...      

     Em 31 de Maio, eu deixei a minha primeira host family em Massachusetts e fui morar com a minha segunda host family em Ohio. Deixei três kids lindas e amáveis e conheci uma moleca de 7 anos. Deixei um calabouço e fui morar em uma mansão. Deixei de comer pão com manteiga de amendoim e geleia e de passar fome para comer muito e engordar um quilinhos. 
     Até hoje eu tento entender o que o desespero leva as pessoas à fazer. Como o fato de que quando se encontra em um beco sem saída, a escada de cordas que é oferecida não é bem a escolha mais confiável. Quando se entra em rematch, num programa de au pair, as coisas mudam de cor, de figura, de tamanho... Você não tem mais o mesmo tempo para encontrar uma outra host family satisfatória. Você não pode escolher nada. Você tem que esperar a host family entrar em contato, te entrevistar e te perguntar milhares de coisas à respeito do por quê de você ter entrado em rematch. E, para meninas que são under 21, as opções são pouquíssimas! (Por isso, eu volto a dizer.. Muito cuidado na hora de escolher a sua host family!) É bem assim: ou você escolhe essa host family que te escolheu ou você volta para o seu país. E foi o que eu fiz: escolhi a host family!
     Eu tive uma entrevista com tempo médio com o host na 5ª e uma com tempo longo com a host na 6ª de manhã. Na 6ª à tarde, eu já estava recebendo o meu voo por e-mail. Durante a entrevista, me policiei a perguntar somente sobre a menina e os hosts responderam tudo, inclusive sobre os meus privilégios e responsabilidades para comigo mesma e a casa. Minha primeira lcc quis frisar bem que era somente uma kid e que seria o trabalho mais fácil do mundo. Do mesmo jeito que o host me disse que ela era uma menina independente e amável. E eu fiquei animada, feliz de saber que não iria ter de trabalhar mais de 14h por dia ou nos fins de semana, pois eles me garantiram que estariam em casa nos fins de semana. 
     Pois bem, os hosts foram me buscar no aeroporto e desde o momento em que eu me acomodei no carro até o fim do dia, perguntas e mais perguntas sobre a minha primeira host family, pois a lcc tinha dito que eu tinha passado alguns perrengues, mas sem muitos detalhes. (Observação: americanos são bem fofoqueiros quando querem!) E eu fui sincera! Contei à eles tudo o que eu tinha passado com a primeira host family e eles ficaram bem assustados.
     Quando entrei no meu quarto, eu fiquei pasma! Sim, pasma. Para quem estava dormindo em uma caixa de fósforos, cuja porta era de vidro e sem cortina, sem espaço para absolutamente nada e a janela que clareava às 4h da manhã... Eu estava no paraíso! Um quarto imenso, uma cama imensa, um banheiro só para mim, uma televisão, uma porta de madeira, uma porta de verdade... E comida! Muita comida! Quem leu isso agora deve estar pensando que eu sou a pessoa mais gorda do mundo! Mas, não gente.. Quem já passou fome durante a sua vida auperiana, vai me entender muito bem! AHHHHHH! E antes que eu me esqueça... Eu tinha um carro para usar com a kid e no meu tempo off. Ou seja, eu não morava mais em um calabouço, que só podia ver a luz do dia ou do luar da janela do meu quarto. Eu podia sair e visitar os lugares! As mudanças foram tantas que eu comecei a achar que estava no mundo dos sonhos. 
     Nesta host family, eu era a terceira au pair em dois meses! Minha host family teve uma au pair por 5 anos (2 anos pela APIA e 3 anos por fora) e ela foi embora em Janeiro. Em Abril, chegou a primeira.. Quatro semanas depois, a segunda (uma italiana, a D! Gosto muitíssimo dela! Um amor de pessoa e agora, somos amigas!) e duas semanas depois, ela teve que ir. Então... chegou minha vez! Muita mudança, um pouco difícil de acostumar, tanto para os hosts quanto para a kid. Mas estávamos todos nos esforçando e muito! 
     Nos primeiros dias, a D ainda estava conosco e tudo estava correndo muito bem. A kid era um anjo e muito comportada. MAS, TUDO QUE É BOM, DURA POUCO. Assim que a D foi embora, foi bem sincera comigo e me disse "Espero que ela te trate melhor do que me tratou durante esse tempo. E que você tenha pulso firme o suficiente para domar essa fera." Confesso que quando ela me disse isso, pensei que fosse mais para me assustar e me confundir. Descobri a verdade no dia seguinte. 
     Não vou detalhar dia por dia, caso contrário teremos um diário de lágrimas no blog e eu quero relatar as experiências e aprendizado. Então, vou resumir um pouco do que passei com a minha kid. Sempre que me referir à ela, usarei A, dessa forma ficará mais fácil. 

Uma criança, três cães, uma mansão e... Uma bruxa do 71!

     A é uma menina de 7 anos, bastante independente devo admitir, mimada, birrenta e a verdadeira rainha da casa. Não gosta de abraços, beijos, nenhum tipo de demonstração de carinho. Impaciente e mal educada. Os pais trabalham muito, dificilmente se mostram presentes em sua vida e têm consciência disso. Para aliviar a ausência na vida da filha, compensam dando-lhe tudo o que quer. A au pair carrega o cartão de crédito em sua carteira, mas quem faz uso contínuo dele é A. Uma prova disso são os 4 quartos de brinquedos que ela tem. Sim, são QUATRO (4) quartos pela casa inteira, abarrotados de brinquedos e livros e arts&crafts. Não ouse em dizer um não para ela ou uma guerra será travada. Não pode levar um prato até a lava-louças ou colocar a sua roupa suja dentro do cesto. Tudo, absolutamente tudo que se refere à ela, é a au pair quem faz. (Até aí, tudo bem! É o trabalho da au pair cuidar da criança e tudo o que se refere à ela) A não tem uma alimentação saudável. Grande parte das coisas que se referem à educação de A, cria desentendimentos entre o pai e a mãe. 
     Três cães, doces e amáveis. Todo o amor que eu não recebia de A, eu recebia dos cães. E todo o amor que A recusava, eu dava para os cães. Amados por todos dentro de casa, dois príncipes e uma princesa. Muito mais bem tratados do que muitas crianças que eu já vi por aí. 
     Uma mansão, sim! Três pisos, um jardim imenso, um playground para A, uma piscina imensa. Cinco carros na garagem, cinco suítes, duas salas de tv, duas lavanderias e por aí vai... Uma mansão e a única que 'trabalha' para que a casa fique limpa é a au pair, porque se depender dos outros moradores, vira um chiqueiro fácil, fácil. Tem uma moça que vai a cada 15 dias fazer a faxina na casa, mas é uma faxina totalmente diferente da que fazemos no Brasil. Além de cuidar de A e dos cães, a host me pediu para tentar deixar a cozinha o mais limpa e organizada possível. E essa seria a minha atividade leve da casa. E, eu sempre fazia isso. Até o dia em que ela chegou em casa e me disse que eu deveria ajudar com algo mais pois meu trabalho era o mais leve da casa e nada mais justo do que eu aspirar todo o piso em que se encontrava a cozinha, sala de jantar, sala de tv master e lavanderia. Não, o meu trabalho não era o mais fácil da casa, pois todos os dias eu tinha que lidar com uma criança que valia por dez, que me humilhava a cada cinco minutos para se sentir bem e que não recebia o mínimo de atenção necessária dos pais.  Talvez, na cabeça deles, por eu cuidar somente de uma criança, fosse ser o trabalho mais fácil do mundo. Mal sabem eles todo o cuidado que se deve ter com esse trabalho! 
     Alguns devem estar se perguntando sobre A BRUXA DO 71. Sem rodeios, apresento-lhes a minha lcc. Nos conhecemos na minha segunda semana com a host family e foi um fiasco. Primeiro porque ela falava e os hosts pareciam dois cães obedecendo e esperando para ganhar o prêmio. Segundo porque ela só me criticou desde o começo até o final. Não, eu não gosto dela. E não, eu não sou a única. Dificilmente você irá gostar de uma pessoa que faz questão de dizer que o seu inglês é uma merda e que você precisa urgentemente comprar um dicionário, usar um tradutor e melhorar. Que você está há pouco mais de um mês nos Estados Unidos, mas as pessoas não conseguem entender o que você tenta dizer e que você sabe que não está entendendo o que ela está falando. Que você precisa ser como fulana, ciclana e beltrana. Que você é muito calma e pouco falante, que não entendeu até agora o por quê de você ter se tornado au pair. Como aturar uma pessoa que não te aceita como você é, que te coloca para baixo, que nem ao menos tenta ser um pouco educada em uma conversa civilizada? Desculpa, mas essa é sim uma bruxa do 71! Para os Potterheads de plantão... Ela me fez lembrar muito a Umbridge! 
     O problema maior que tinha com os meus hosts era para com o carro. Nos Estados Unidos, em cada um dos estados que compõem o país, tem regras e leis de trânsito diferentes. Tanto diferentes entre si como no Brasil. Você pode virar à direita quando está vermelho, como também é obrigado a fazer uma parada completa em uma placa de STOP. E, para virar à esquerda, tem dois sinais que devem ser respeitados. Por muitas vezes, eu tentei deixar claro que era sim uma boa motorista, mas que somente com o livro do departamento de trânsito não estava dando, que eu precisava de ajuda na prática. E em todas essas vezes, ninguém nunca podia me ajudar. Me mandavam simplesmente ser mais independente e dirigir. 
     O problema maior que tinha com a minha lcc era o nosso relacionamento e isso dificultava muito o fato de como eu conseguiria resolver o problema maior com os meus hosts. Afinal, a lcc tem que te ajudar, te orientar de forma que tanto você quanto sua host family possa ter um ano de sucesso. Mas, ela era incapaz de ter uma conversa comigo sem me criticar ou desmerecer o meu inglês. 
     E o problema maior com a A era que ela era uma criança totalmente, absurdamente mimada que fazia tudo do jeito dela, sem se importar com as consequências. Mas, por mais difícil que possa parecer, nós conseguíamos viver durante o dia. Eu acordava todos os dias, olhava no espelho e dizia para mim mesma que aquele era o meu trabalho e que eu teria de aguentar todas as manhas vindas de A e sem esquecer é claro das humilhações. No começo, eu até tentei conversar com os pais à respeito, mas eles tinham uma visão totalmente contrária da própria filha. Diziam sempre que ela não fazia por mal, que era uma menina dócil e amável. Que o castigo não era necessário, só conversar já bastava. Quisera eu que realmente fosse assim. 
     Desde que cheguei naquela família, só tive um final de semana livre. Os seguintes foram trabalhando alternadamente entre sexta e sábado ou sexta e domingo ou sábado e domingo. Fosse com A ou com os cães. 
     Depois que se passa por muitos problemas com a primeira host family, você tenta fazer de tudo, se desenrola ainda mais para que não tenha nenhum problema com a sua segunda host family; torce para que tudo saia bem. Quando contei para algumas pessoas mais próximas alguns detalhes sobre o que estava passando desde que chegara, elas tiveram um choque. Eu mesma tive um choque, pois é totalmente diferente de tudo o que é vendido. Quando eu comecei a procurar sobre o programa au pair, todos me falavam maravilhas à respeito. Um programa regulamentado pelo governo americano, que eu poderia estudar, que eu poderia viajar e que as host families passavam por uma avaliação rigorosa até entrarem para o programa e etc E a minha experiência como au pair estava sendo bem ao contrário do que tudo o que haviam me dito. É por isso que sempre me pegava pensando sobre estar vivendo uma aventura, uma experiência incrível ou um pesadelo. 
     É claro que, tem meninas (e meninos) que tem uma experiência incrível, que dão sorte desde o começo. Assim como tem aqueles que dão sorte depois de um rematch. Mas, sempre tem 1 em 1.000.000 que não tem sorte. Essa é a minha experiência. Cada um vive a sua, mas eu acho muito válido compartilhar! 
     Há duas semanas atrás, eu tive uma conversa pelo telefone com a minha lcc que me deixou bastante abalada e me fez começar de verdade a pensar no que eu estava vivendo e se realmente valia a pena? Afinal, de que adianta estar em um intercâmbio cultural se você é infeliz? Rios e rios de lágrimas inundaram o meu quarto naquele final de semana. Então eu lhe pergunto: Aventura ou Pesadelo?


Tem mais no próximo post! 


     

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