14 julho 2015

O Meu Regresso

O momento em que temos de reiniciar!


     Enquanto somos au pairs, dificilmente vamos postar e compartilhar com os amigos do Facebook que estamos passando um perrengue aqui e ali. A grande maioria das vezes, vamos compartilhar nossos momentos de alegria durante nosso ano de intercâmbio. Afinal, quem é que quer saber sobre o peso que está nas suas costas? É por isso que as pessoas adoram dizer que levamos uma vida fácil. É realmente muito fácil julgar por uma foto do que pelo o que realmente acontece. E é por isso que eu não compartilhei com ninguém que eu voltei para o Brasil, exceto é claro com a minha família (meu maior e melhor suporte para todos os momentos <3). 
     Inicialmente, eu estava um pouco frustrada e triste demais para dizer isso às pessoas. Seja aos amigos mais próximos ou àqueles mais longínquos. Sinceramente, pouco me importo com o Facebook. Mas, seria uma forma mais fácil de avisar e explicar aos que tenho mais contato de que eu voltei. Entretanto, continuo na surdina (espero que por pouco tempo). 

Mas, afinal, por que você voltou?

     Eu voltei porque fui expulsa do programa. A Au Pair in America me expulsou do programa! Pois é, eles não são tão amorosos assim. Parece até engraçado agora quando eu avalio tudo o que aconteceu. Quando estava começando a procurar sobre, acabei decidindo pela APiA, pois muitas amigas e conhecidas haviam me dito que era mais caro, porém, tinha um suporte fora de série durante o seu ano nos Estados Unidos. E até hoje me pergunto onde estava esse suporte quando eu mais precisei?

O que aconteceu? Por que você foi expulsa do programa? 
(Senta que lá vem a história!) 

     Nos últimos tempos, eu estava passando por muita coisa. Tem aquelas pessoas que nascem com o bumbum virado para a Lua; mas eu nasci com o bumbum virado para o Sol e olha... estava ardendo muito! Foi como eu disse no post anterior, tem pessoas que se dão muito bem em seu programa de au pair. Mas, tem aquelas (como eu) que não tem tanta sorte assim. 
     Depois que eu tive a conversa pelo telefone com a minha lcc, eu fiquei muito pior do que eu já estava. Me sentia totalmente solitária dentro daquela casa, sem amigos próximos e nenhuma consideração. Era o fim de semana do aniversário do meu host e a minha host estava duplamente ocupada. Eu precisava conversar com alguém, qualquer um que fosse, mas não dava. Eu chorava o tempo inteiro. Pensei que fosse homesick, mas minha mãe insistia em me perguntar se eu estava sendo feliz naquele lugar. E eu, boba-lerda-idiota, dizia que estava tudo bem. Mas não estava. A ligação foi na quarta à noite. Eles começaram a arrumar tudo para a festa na sexta e não me disseram nada. Fui me oferecer para ajudar e a filha mais velha (22yo) me disse que estava tudo OK e que eu podia aproveitar meu tempo off, já que iria trabalhar no sábado. 
    No sábado de manhã, minha host veio me perguntar o que diabos eu estava fazendo que não estava ajudando eles em nada. E foi aí que eu disse que a enteada dela me disse que eu não precisava ajudar e que estava tudo OK. Ela virou para mim e disse:"Ela não sabe de nada. Somente de gastar o dinheiro do pai. Ou você ajuda ou você não é parte dessa família." É, muito justo mesmo. Eu trabalho pra caramba! Faço muito mais do que está no contrato e se eu não ajudar a arrumar uma festa, não sou parte da família. Queridinha, eu nunca fui considerada parte da sua família. - Quisera eu ter tido coragem para dizer isso na hora. 
    O domingo foi dedicado à limpar tudo e adivinha quem estava lá? Sim, eu estava lá ajudando. À tarde, enquanto estavam todos moídos na cama, lá estava eu cuidando da kid, pois os pais estavam com uma ressaca imensa e os filhos.. Bem, os filhos nunca ajudaram com nada. Eu a levei em uma festa de aniversário, fui buscar, fiz o jantar e nada de ficar off. Quando eles finalmente levantaram, a host me disse que tinha que levar o host no médico pois ele não estava bem. E eu fiquei com a kid até ela dormir. 
     As coisas não estavam andando bem, mas aquela era a minha segunda host family e eu sabia que nem tudo eram flores, que sempre haveriam dias em que seria um sufoco e dias em que eu só seria humilhada. 
    Na segunda de manhã, eu arrumei tudo para a kid ir para o camp, levei-a até a casa dos vizinhos para pegar a carona e fui arrumar a casa, fazer o meu serviço. Fui ao supermercado, cuidei dos cães, preparei meu almoço, escovei os dentes e fui buscar as kids no camp. Mas, na segunda de manhã, por mais que eu tivesse a minha rotina do dia-a-dia, eu acordei estranha. Meu corpo pedia para ficar na cama, tudo estava acontecendo para eu continuar em casa, mas eu fui contra. Tenho certeza de que foi um sinal. Foi só eu entrar no carro que o sol se escondeu e os sinais de chuva começaram a aparecer. 
     A distância de casa até o camp eram de 30 minutos e nesses 30 minutos, tudo, absolutamente tudo mudou. Começou a relampear, em seguida, uma super chuva! Um trânsito que eu nunca tinha visto antes na cidade e o "bendito" sinal da esquerda. Eu já estava há 5 minutos de chegar no camp, dentro do horário e esperando pelo sinal. 
     Obs - Uma breve explicação sobre esse sinal: Existe um sinal específico para quem irá virar à esquerda. Primeiramente, aparece uma seta verde e essa indica que você e unicamente você poderá virar à esquerda. Depois, aparece o sinal verde. Porém, o sinal verde aparece para a faixa contrária também! Ou seja, você só pode virar se não estiver vindo nenhum carro ou se o carro que estiver na outra faixa ceder. 
    A faixa da direita estava completamente cheia de carros, mas ninguém bloqueia a intersecção. A faixa da direita estava com carros, mas aos poucos, foram diminuindo. O carro que estava na faixa da direita avisou que eu poderia seguir que ele não iria avançar. Pois bem, eu fui com o carro até o meio da intersecção e fiquei olhando para ver se na faixa central não estava vindo nenhum carro. A velocidade máxima permitida naquela avenida era de 30 milhas/hora. E eu estava bem menos que isso. Ao olhar e ver que não vinha nenhum carro, eu acelerei um pouco e virei. Nesses 3 segundos, um carro veio com tudo para cima de mim e puff!! Acidente de carro. Quando o outro carro bateu no meu, foi horrível! Toda a minha vida passou pela minha cabeça, todo o meu ser entrou em choque. O meu carro foi parar um pouco mais para frente da avenida, à uma lasca do poste de luz. E o outro carro em cima da calçada. O senhor que bateu no meu carro estava intacto. Saiu do carro e veio como um furacão para cima do meu carro. Começou a bater no vidro e me xingar sem parar. Eu estava em pânico. Não sabia ao certo o que fazer, estava chorando e tentando ao mesmo tempo entender o que tinha acontecido. Alguns minutos depois, um rapaz se aproximou do meu carro e pediu para aquele senhor se afastar e avisou-o que a polícia estava chegando. Ele começou a falar comigo e nos primeiros instantes eu não estava entendendo. Perguntei se ele falava espanhol e ele disse que não. Eu tentei engolir o choro e a primeira coisa que eu disse foi para ele ligar para o meu host e pedir para alguém buscar as kids no camp. Em seguida, ele me perguntou o que tinha acontecido e se eu estava bem. Eu tentei explicar o que havia acontecido e ele percebeu que o meu inglês não era assim tão perfeito quanto o de um americano e perguntou se eu era estrangeira, eu respondi que sim. A cara dele mudou. Mas, inicialmente, eu não entendi por que. 
     Pouco mais que 15 minutos depois, a emergência havia chego e a polícia também. O policial perguntou se eu já tinha a driver license e eu disse que não, somente a permissão internacional para dirigir. Eu permiti que ele pegasse dentro da minha bolsa e quando ele viu que eu era estrangeira, a cara dele também mudou. Os bombeiros colocaram uma tala no meu pescoço depois que viram o corte que eu tinha no ombro e me ajudaram a sair do carro, deitei em uma maca e fui para a emergência. Fiquei lá por pouco mais de sete horas e sem nenhuma notícia da minha host family. Ninguém foi até lá para saber se eu estava viva ou morta. Fiz todos os tipos de posições para o raio-x e por Deus, eu não tinha quebrado nenhum osso. Fiquei com alguns cortes por conta do aperto do cinto e hematomas pelo corpo. Minhas pernas estavam muito inchadas, eu mal conseguia andar. Estava esperando pelos resultados dos exames quando o policial entrou no quarto e perguntou se eu estava bem e se poderíamos conversar sobre o acidente.  Eu disse que sim. E foi nesse momento em que eu descobri mais uma vez que americano nunca fica contra americano. O senhor que bateu no meu carro estava no dobro da velocidade permitida, o que já é um grande problema. Mas, ele era americano e eu brasileira. E uma das testemunhas também sabia disso. Segundo o policial, a culpa era tanto minha quanto do outro. 50% de culpa para cada um. Independente do meu depoimento à respeito. Tudo bem, eu deveria ter esperado por mais 5 segundos e depois virado, ou esperado pela próxima seta verde, mas eu não fiz. Então, eu aceito que a culpa também possa ter sido minha. Mas as coisas mudaram MUITO de figura quando descobriram que eu não era americana. Ainda ganhei uma multa de US$ 230 pelo o que tinha acontecido. 
     Mais tarde, quando recebi os resultados do raio-x e fui liberada, liguei para o meu host e ele disse que iria me buscar e que era para eu estar pronta, pois ele chegaria em 15 minutos. E assim eu fiz. Quinze minutos depois, ele chegou. A única coisa que me perguntou foi:"Você quebrou alguma coisa?" E eu disse que não. E ele:"OK. Vamos embora." Nenhuma palavra foi dita dentro carro ou depois que chegamos em casa. Nós chegamos em casa e ele pegou algumas cervejas e saiu com a kid. Eu subi para o meu quarto, tomei um banho e fui conversar com os meus pais no skype. Quando eu comecei a contar para a minha mãe o que tinha acontecido, ela me disse que havia tido um pesadelo na noite passada comigo. Depois que eu comecei, as lágrimas começaram a vir também. Naquele momento, não houve dúvidas de que eu deveria voltar para casa. 
      Antes que pudéssemos terminar a nossa conversa, minha lcc me ligou. Nenhuma pergunta referente ao fato de eu estar bem ou não. Pediu para eu explicar o que tinha acontecido e em seguida, me disse que era para eu arrumar todas as minhas coisas, pois em alguns dias estaria voltando para o Brasi. "Você não tem mais como ficar aqui. Por conta disso, a APiA está te excluindo do programa." Perguntou se eu tinha dinheiro suficiente para a multa, o seguro do carro e a passagem de avião. E eu disse que não. Só a multa + o seguro já seriam US$ 730, ainda mais a passagem que era para dois ou três dias depois.. Seriam uns US$ 1,000 no mínimo e eu não tinha tanto dinheiro para isso. Me disse que eu deveria fechar a minha conta no banco, pagar a multa e devolver tudo o que eu tinha, mas que na verdade pertencia à minha host family; pois eles não me queriam mais ali e eu iria passar os últimos dias na casa dela. E, que se eu tivesse que falar com o seguro ou qualquer outra empresa referente ao acidente que eu não deveria, pois meu inglês não era bom o suficiente para isso e que eu poderia falar besteira ou algo errado para eles. 
    Eu disse que tudo bem, que iria fazer tudo aquilo. Por uma vez mais, meus hosts não conversaram comigo, jogaram tudo para a lcc conversar comigo, com aquele jeito doce e compreensivo dela. Foi um momento muito difícil. Descobrir que você está sendo expulsa do programa e sem te explicarem exatamente por quê. Seus hosts não tem a decência de conversar com você e fogem para a casa dos vizinhos para isso.

E você não fez nada para ficar?

     Eu fiz. Primeiramente, eu postei no grupo Au Pair do Facebook e contei sobre tudo o que tinha acontecido e perguntei se estava certo eu ser expulsa do programa. E quem sabia ou já tinha passado por algo parecido, tentou me ajudar. Teve uma menina em especial que se prontificou a me ajudar e entrou em contato com o governo americano (eles tem um escritório específico em auxílio aos visitantes com o visto J1). Porém, eles não retornaram e não auxiliaram em nada. Alguns me instruíram a mandar e-mail para o escritório oficial da APiA em Londres e eu o fiz. E a resposta que eu recebi foi que eles estariam enviando um e-mail para o escritório em Boston, de forma que eles ficassem cientes de tudo o que eu tinha passado. Mas que, infelizmente, eles não poderiam me ajudar. No e-mail que eu mandei, eu contei absolutamente tudo! Desde o primeiro dia com a minha primeira host family, o problema com a minha segunda lcc, com a kid, o fato da area director não ajudar em nada e sobre eu realmente querer ficar no programa. Em troca, recebi uma ligação da area director falando sobre a passagem aérea, que ela teria me enviado por e-mail e que eu deveria confirmar que pegaria o voo. Que, se eu quisesse, eu ainda poderia voltar como au pair em um ou dois anos, mas por outras agências. Que eu resolvesse ficar, independente e ilegal, tudo bem, era a minha escolha. Porém, se eu ou minha família tivessem algum outro tipo de visto americano, ele seria cancelado e seríamos impedidos de retornar ao país por até 10 anos. Demorou, mas eu consegui entender tudo o que eu estaria colocando em risco se continuasse lutando para ficar. 
     O importante é que eu tentei. Eu tentei mesmo, de todas as formas ficar legal no país e ainda continuar como au pair. Mas, não deu! E o melhor mesmo era voltar. 

E os últimos dias lá? Como foram

     Horríveis! Eu não tive como sair e comprar algumas coisas. Fizeram o favor de me levar até a Target e me deram 10 minutos para pegar tudo o que eu precisava. Eu até cheguei a conversar com os meus hosts, pedi desculpas pelo acidente e desejei à eles tudo de bom. A host me disse que entendia que eu não havia feito aquilo por mal (É claro que não!! Foi um acidente.), mas que infelizmente, não tinha como ficar comigo. Não por eu ser uma má au pair, muito pelo contrário; que como au pair, eu era ótima. Era porque ela precisava de alguém que pudesse dirigir a filha e eu não era mais a pessoa certa para aquilo. Me desejou tudo de bom também. 
     A area director me ligou e perguntou à respeito de toda a minha experiência até ali, especificamente sobre a minha primeira host family. Queria detalhes e saber de tudo o que tinha acontecido, uma vez que a primeira lcc não havia dito nada. Se desculpou pela minha péssima experiência, mas não fez nada para que eu pudesse ficar. Fez questão de frisar que a APiA estava indo contra os princípios ao me pagar a passagem de volta, uma vez que essa era uma obrigação da au pair; mas que ela sabia que eu não tinha dinheiro e eles fariam isso por mim. 
     O meu último dia com eles foi na quinta, pois eles foram viajar. Na quinta à tarde, minha lcc foi me buscar e as minhas últimas horas nos Estados Unidos foi ao lado dela. Ela já estava sabendo que eu tinha falado para a APiA sobre o tratamento que ela tinha comigo e com outras meninas, então, ela se policiava e tentava ser o mais gentil possível, mas sem sucesso. 

Quando foi que você chegou no Brasil    

Eu sai de Ohio na sexta-feira, 3 de Julho. Cheguei em Guarulhos no sábado, 4 de Julho. 


{Obs: Esse não será o meu último post no blog. Ainda irei postar e dizer como foi a minha volta para casa tão repentinamente.}





10 julho 2015

Aventura ou Pesadelo?

STOP OR PLAY? 


PLAY OR STOP?



     Quem está seguindo o blog, deve saber o sufoco que passei no primeiro mês. Porém, quem está lendo pela primeira vez e ficar curioso, pode procurar ali na página inicial o post "30 DIAS".  
     Desde pequena, sempre ouvia minha avó dizendo que "alegria de pobre sempre dura pouco". Não sei vocês, mas eu sempre tive aquela impressão de que vai acontecer com os outros e não comigo. E, de vez em sempre, acaba acontecendo comigo. Pois bem, o post de hoje vai ser bem mais longo do que os anteriores, pois tenho muito a contar e já aviso: nem tudo são flores! 

Voltando um pouco no tempo...      

     Em 31 de Maio, eu deixei a minha primeira host family em Massachusetts e fui morar com a minha segunda host family em Ohio. Deixei três kids lindas e amáveis e conheci uma moleca de 7 anos. Deixei um calabouço e fui morar em uma mansão. Deixei de comer pão com manteiga de amendoim e geleia e de passar fome para comer muito e engordar um quilinhos. 
     Até hoje eu tento entender o que o desespero leva as pessoas à fazer. Como o fato de que quando se encontra em um beco sem saída, a escada de cordas que é oferecida não é bem a escolha mais confiável. Quando se entra em rematch, num programa de au pair, as coisas mudam de cor, de figura, de tamanho... Você não tem mais o mesmo tempo para encontrar uma outra host family satisfatória. Você não pode escolher nada. Você tem que esperar a host family entrar em contato, te entrevistar e te perguntar milhares de coisas à respeito do por quê de você ter entrado em rematch. E, para meninas que são under 21, as opções são pouquíssimas! (Por isso, eu volto a dizer.. Muito cuidado na hora de escolher a sua host family!) É bem assim: ou você escolhe essa host family que te escolheu ou você volta para o seu país. E foi o que eu fiz: escolhi a host family!
     Eu tive uma entrevista com tempo médio com o host na 5ª e uma com tempo longo com a host na 6ª de manhã. Na 6ª à tarde, eu já estava recebendo o meu voo por e-mail. Durante a entrevista, me policiei a perguntar somente sobre a menina e os hosts responderam tudo, inclusive sobre os meus privilégios e responsabilidades para comigo mesma e a casa. Minha primeira lcc quis frisar bem que era somente uma kid e que seria o trabalho mais fácil do mundo. Do mesmo jeito que o host me disse que ela era uma menina independente e amável. E eu fiquei animada, feliz de saber que não iria ter de trabalhar mais de 14h por dia ou nos fins de semana, pois eles me garantiram que estariam em casa nos fins de semana. 
     Pois bem, os hosts foram me buscar no aeroporto e desde o momento em que eu me acomodei no carro até o fim do dia, perguntas e mais perguntas sobre a minha primeira host family, pois a lcc tinha dito que eu tinha passado alguns perrengues, mas sem muitos detalhes. (Observação: americanos são bem fofoqueiros quando querem!) E eu fui sincera! Contei à eles tudo o que eu tinha passado com a primeira host family e eles ficaram bem assustados.
     Quando entrei no meu quarto, eu fiquei pasma! Sim, pasma. Para quem estava dormindo em uma caixa de fósforos, cuja porta era de vidro e sem cortina, sem espaço para absolutamente nada e a janela que clareava às 4h da manhã... Eu estava no paraíso! Um quarto imenso, uma cama imensa, um banheiro só para mim, uma televisão, uma porta de madeira, uma porta de verdade... E comida! Muita comida! Quem leu isso agora deve estar pensando que eu sou a pessoa mais gorda do mundo! Mas, não gente.. Quem já passou fome durante a sua vida auperiana, vai me entender muito bem! AHHHHHH! E antes que eu me esqueça... Eu tinha um carro para usar com a kid e no meu tempo off. Ou seja, eu não morava mais em um calabouço, que só podia ver a luz do dia ou do luar da janela do meu quarto. Eu podia sair e visitar os lugares! As mudanças foram tantas que eu comecei a achar que estava no mundo dos sonhos. 
     Nesta host family, eu era a terceira au pair em dois meses! Minha host family teve uma au pair por 5 anos (2 anos pela APIA e 3 anos por fora) e ela foi embora em Janeiro. Em Abril, chegou a primeira.. Quatro semanas depois, a segunda (uma italiana, a D! Gosto muitíssimo dela! Um amor de pessoa e agora, somos amigas!) e duas semanas depois, ela teve que ir. Então... chegou minha vez! Muita mudança, um pouco difícil de acostumar, tanto para os hosts quanto para a kid. Mas estávamos todos nos esforçando e muito! 
     Nos primeiros dias, a D ainda estava conosco e tudo estava correndo muito bem. A kid era um anjo e muito comportada. MAS, TUDO QUE É BOM, DURA POUCO. Assim que a D foi embora, foi bem sincera comigo e me disse "Espero que ela te trate melhor do que me tratou durante esse tempo. E que você tenha pulso firme o suficiente para domar essa fera." Confesso que quando ela me disse isso, pensei que fosse mais para me assustar e me confundir. Descobri a verdade no dia seguinte. 
     Não vou detalhar dia por dia, caso contrário teremos um diário de lágrimas no blog e eu quero relatar as experiências e aprendizado. Então, vou resumir um pouco do que passei com a minha kid. Sempre que me referir à ela, usarei A, dessa forma ficará mais fácil. 

Uma criança, três cães, uma mansão e... Uma bruxa do 71!

     A é uma menina de 7 anos, bastante independente devo admitir, mimada, birrenta e a verdadeira rainha da casa. Não gosta de abraços, beijos, nenhum tipo de demonstração de carinho. Impaciente e mal educada. Os pais trabalham muito, dificilmente se mostram presentes em sua vida e têm consciência disso. Para aliviar a ausência na vida da filha, compensam dando-lhe tudo o que quer. A au pair carrega o cartão de crédito em sua carteira, mas quem faz uso contínuo dele é A. Uma prova disso são os 4 quartos de brinquedos que ela tem. Sim, são QUATRO (4) quartos pela casa inteira, abarrotados de brinquedos e livros e arts&crafts. Não ouse em dizer um não para ela ou uma guerra será travada. Não pode levar um prato até a lava-louças ou colocar a sua roupa suja dentro do cesto. Tudo, absolutamente tudo que se refere à ela, é a au pair quem faz. (Até aí, tudo bem! É o trabalho da au pair cuidar da criança e tudo o que se refere à ela) A não tem uma alimentação saudável. Grande parte das coisas que se referem à educação de A, cria desentendimentos entre o pai e a mãe. 
     Três cães, doces e amáveis. Todo o amor que eu não recebia de A, eu recebia dos cães. E todo o amor que A recusava, eu dava para os cães. Amados por todos dentro de casa, dois príncipes e uma princesa. Muito mais bem tratados do que muitas crianças que eu já vi por aí. 
     Uma mansão, sim! Três pisos, um jardim imenso, um playground para A, uma piscina imensa. Cinco carros na garagem, cinco suítes, duas salas de tv, duas lavanderias e por aí vai... Uma mansão e a única que 'trabalha' para que a casa fique limpa é a au pair, porque se depender dos outros moradores, vira um chiqueiro fácil, fácil. Tem uma moça que vai a cada 15 dias fazer a faxina na casa, mas é uma faxina totalmente diferente da que fazemos no Brasil. Além de cuidar de A e dos cães, a host me pediu para tentar deixar a cozinha o mais limpa e organizada possível. E essa seria a minha atividade leve da casa. E, eu sempre fazia isso. Até o dia em que ela chegou em casa e me disse que eu deveria ajudar com algo mais pois meu trabalho era o mais leve da casa e nada mais justo do que eu aspirar todo o piso em que se encontrava a cozinha, sala de jantar, sala de tv master e lavanderia. Não, o meu trabalho não era o mais fácil da casa, pois todos os dias eu tinha que lidar com uma criança que valia por dez, que me humilhava a cada cinco minutos para se sentir bem e que não recebia o mínimo de atenção necessária dos pais.  Talvez, na cabeça deles, por eu cuidar somente de uma criança, fosse ser o trabalho mais fácil do mundo. Mal sabem eles todo o cuidado que se deve ter com esse trabalho! 
     Alguns devem estar se perguntando sobre A BRUXA DO 71. Sem rodeios, apresento-lhes a minha lcc. Nos conhecemos na minha segunda semana com a host family e foi um fiasco. Primeiro porque ela falava e os hosts pareciam dois cães obedecendo e esperando para ganhar o prêmio. Segundo porque ela só me criticou desde o começo até o final. Não, eu não gosto dela. E não, eu não sou a única. Dificilmente você irá gostar de uma pessoa que faz questão de dizer que o seu inglês é uma merda e que você precisa urgentemente comprar um dicionário, usar um tradutor e melhorar. Que você está há pouco mais de um mês nos Estados Unidos, mas as pessoas não conseguem entender o que você tenta dizer e que você sabe que não está entendendo o que ela está falando. Que você precisa ser como fulana, ciclana e beltrana. Que você é muito calma e pouco falante, que não entendeu até agora o por quê de você ter se tornado au pair. Como aturar uma pessoa que não te aceita como você é, que te coloca para baixo, que nem ao menos tenta ser um pouco educada em uma conversa civilizada? Desculpa, mas essa é sim uma bruxa do 71! Para os Potterheads de plantão... Ela me fez lembrar muito a Umbridge! 
     O problema maior que tinha com os meus hosts era para com o carro. Nos Estados Unidos, em cada um dos estados que compõem o país, tem regras e leis de trânsito diferentes. Tanto diferentes entre si como no Brasil. Você pode virar à direita quando está vermelho, como também é obrigado a fazer uma parada completa em uma placa de STOP. E, para virar à esquerda, tem dois sinais que devem ser respeitados. Por muitas vezes, eu tentei deixar claro que era sim uma boa motorista, mas que somente com o livro do departamento de trânsito não estava dando, que eu precisava de ajuda na prática. E em todas essas vezes, ninguém nunca podia me ajudar. Me mandavam simplesmente ser mais independente e dirigir. 
     O problema maior que tinha com a minha lcc era o nosso relacionamento e isso dificultava muito o fato de como eu conseguiria resolver o problema maior com os meus hosts. Afinal, a lcc tem que te ajudar, te orientar de forma que tanto você quanto sua host family possa ter um ano de sucesso. Mas, ela era incapaz de ter uma conversa comigo sem me criticar ou desmerecer o meu inglês. 
     E o problema maior com a A era que ela era uma criança totalmente, absurdamente mimada que fazia tudo do jeito dela, sem se importar com as consequências. Mas, por mais difícil que possa parecer, nós conseguíamos viver durante o dia. Eu acordava todos os dias, olhava no espelho e dizia para mim mesma que aquele era o meu trabalho e que eu teria de aguentar todas as manhas vindas de A e sem esquecer é claro das humilhações. No começo, eu até tentei conversar com os pais à respeito, mas eles tinham uma visão totalmente contrária da própria filha. Diziam sempre que ela não fazia por mal, que era uma menina dócil e amável. Que o castigo não era necessário, só conversar já bastava. Quisera eu que realmente fosse assim. 
     Desde que cheguei naquela família, só tive um final de semana livre. Os seguintes foram trabalhando alternadamente entre sexta e sábado ou sexta e domingo ou sábado e domingo. Fosse com A ou com os cães. 
     Depois que se passa por muitos problemas com a primeira host family, você tenta fazer de tudo, se desenrola ainda mais para que não tenha nenhum problema com a sua segunda host family; torce para que tudo saia bem. Quando contei para algumas pessoas mais próximas alguns detalhes sobre o que estava passando desde que chegara, elas tiveram um choque. Eu mesma tive um choque, pois é totalmente diferente de tudo o que é vendido. Quando eu comecei a procurar sobre o programa au pair, todos me falavam maravilhas à respeito. Um programa regulamentado pelo governo americano, que eu poderia estudar, que eu poderia viajar e que as host families passavam por uma avaliação rigorosa até entrarem para o programa e etc E a minha experiência como au pair estava sendo bem ao contrário do que tudo o que haviam me dito. É por isso que sempre me pegava pensando sobre estar vivendo uma aventura, uma experiência incrível ou um pesadelo. 
     É claro que, tem meninas (e meninos) que tem uma experiência incrível, que dão sorte desde o começo. Assim como tem aqueles que dão sorte depois de um rematch. Mas, sempre tem 1 em 1.000.000 que não tem sorte. Essa é a minha experiência. Cada um vive a sua, mas eu acho muito válido compartilhar! 
     Há duas semanas atrás, eu tive uma conversa pelo telefone com a minha lcc que me deixou bastante abalada e me fez começar de verdade a pensar no que eu estava vivendo e se realmente valia a pena? Afinal, de que adianta estar em um intercâmbio cultural se você é infeliz? Rios e rios de lágrimas inundaram o meu quarto naquele final de semana. Então eu lhe pergunto: Aventura ou Pesadelo?


Tem mais no próximo post! 


     

08 julho 2015

Uma NOVA Cultura

Costumes Americanos #2


     Estou perto de completar dois meses nesse país, mas parece que estou aqui há muito mais tempo. Todo dia é um novo dia, diferente de ontem e consequentemente de amanhã. Porém, todos os dias me deparo com novas experiências e conhecimentos. Parece que é mentira, mas garanto que não. Mas, todos os dias, um novo costume americano passa pela minha vida "auperiana". 
     Considerando todos os costumes brasileiros aos quais estive cercada durante quase toda a minha vida, é automático e eu sempre fico me perguntando como eles conseguem fazer tal coisa. Estou me acostumando, aos poucos, com o que me parece bom. 
     Pois bem, mais uma lista: 

1. EDUCAÇÃO! Aonde quer que você vá, seja em uma loja, restaurante, farmácia, levar a sua criança para alguma aula, passear no parque, brincar na rua... Não importa, em qualquer lugar, sempre que você se deparar com um americano, ele vai te cumprimentar com um "Bom dia, boa tarde, boa noite", seguido de um "Como vai você? Como está sendo seu dia?". Você vai responder e consequentemente, ele ainda dirá "Tenha um bom dia (tarde ou noite)!" Se, sem querer, você esbarrou nele, entrou na frente ou algo do gênero, sempre você irá ouvir um "Sorry". Sempre que disser um "Obrigada", terá um "De nada". Quando cheguei, pensei que fossem meras formalidades, mas não, eles falam isso com um sorriso no rosto, eles tem prazer em dizer! É um costume que adotei aos meus dias. 
2. Ah, o TRÂNSITO! Cada estado americano tem suas próprias leis, sinais e regras. Felizmente, você consegue se adaptar facilmente à cada uma delas, estando sempre atento, é claro. O que mais me chama atenção é em como eles respeitam todos os sinais. Não tem aquele trânsito caótico, repleto de buzinas ou acidentes diários. Sem contar a organização com relação às faixas e placas. Só se perde quem realmente nunca dirigiu na vida! 
3. ÁGUA! Eles tem alguns costumes peculiares com relação à esse bem precioso. Se você for em algum estabelecimento alimentício (restaurante, bar, sorveteria...) e pedir água para beber, o garçom irá servir um copo/canecão com água e gelo. Essa água é gratuita. Não, você não tem que pagar por isso. À menos que seja específico, se pedir uma garrafa de água, ela será cobrada.
3.1 Enquanto no Brasil, lutamos para economizar cada fio de água, aqui a banda toca diferente. (É claro que isso pode e irá variar de família para família, mas no caso, falo com relação ao que tenho presenciado) Pode ter chovido durante toda a noite anterior, mas mesmo assim, quando chegar de manhã, eles irão aguar as plantas. E se você perguntar, a resposta será "Não choveu o suficiente". Eles não esbanjam a água, mas também não se matam para economizá-la. 
4. Existem muitos produtos que vendem no Brasil e nos Estados Unidos, não. E vice-versa. A PepsiCo, por exemplo, é americana. Enquanto no Brasil, temos TODDY, aqui não. A Nestle é suíça, mas famosa no mundo inteiro. No Brasil, temos o famoso Leite Ninho, aqui temos leite em pó da mesma marca, mas que não chega nem aos pés do que temos no Brasil. Da mesma forma como não temos Nescau. Iogurte natural é o mais difícil de encontrar por aqui, a grande maioria é grego ou de baunilha. Comida é o que mais faz diferença por aqui e acreditem, a lista é interminável! 
5. GERMES! As pessoas aqui tem um problema bem sério com germes. Qualquer coisa que você fizer, tem que tomar cuidado com germes. GERMES, germes, GeRmEs!!!! Para todo lado! É uma loucura. Sabemos que lavar as mãos é bastante importante, assim como toda a higiene pessoal. Mas, se tem uma coisa que eu ainda não entendi aqui é essa questão dos germes. Pois bem, eles tem todo esse cuidado com os germes, mas tomar banho que é bom.. NADA! Vai entender, né?



04 junho 2015

30 DIAS

O primeiro mês!


     Enquanto ainda estava pesquisando sobre a experiência de ser uma Au Pair, vi em muitos blogs e vlogs à respeito do primeiro mês: é o mais difícil, uma vez que você está se adaptando à um novo meio (outro país, uma nova cultura), uma nova família, novas regras e o tal do homesick.
     Quando deixei o meu amado país em 3 de Maio, eu sabia que o primeiro mês não seria fácil e que eu teria de ser forte em todos os quesitos. Porém, não imaginava que seria tão difícil assim. Confesso que tiveram momentos em que quis desistir, mas alguém lá em cima não permitiu e eu fico muito feliz por isso, principalmente porque agora, estou completando esse primeiro mês e muito orgulhosa disso. 

Um pouco mais sobre o meu primeiro mês...

     Desde que cheguei na Terra do Tio Sam (como muitos costumam chamar), tive algumas boas aventuras. Durante o meu período de treinamento em Tarrytown, teve uma noite em que fui com mais algumas brasileiras até a piscina do hotel e ficamos por lá jogando conversa fora para distrair. O lugar em sim era maravilhoso, o jardim principalmente! 
     O primeiro fim de semana em que passei por aqui, no domingo era dia das Mães e a minha host family me convidou para ir com eles até a casa de uma prima da host mom pois haveria um barbecue (churrasco americano) especial para essa data. Como eu havia chegado há pouco mais de dois dias, eu aceitei numa boa, até porque ficar em casa em pleno domingo e domingo esse dia das Mães, não iria rolar de nenhuma forma. Fomos até lá e eu me senti um verdadeiro peixe fora d'água, uma vez que, todos se conheciam e tinham muito papo para colocar em dia e eu lá, sentada com a baby sem ter o que fazer. Foi um dia interessante no sentido "descobertas". Foi exatamente nesse dia em que eu descobri o que era o tal do churrasco americano e sim, não tem nada haver com o brasileiro. Salsicha e carne de hamburger, muitos snacks (somente salgadinhos) e um suco de laranja bem aguado. O almoço em si foi somente comer o que estava na churrasqueira e uma salada que a minha host family levou.
     Enquanto a primeira semana com as kids se estendia, deu tempo para cozinhar um brigadeiro e deixar com que a família prova-se. Resultado: TODOS GOSTARAM! (o que é óbvio!)
     No segundo fim de semana, uma outra au pair me convidou para conhecer a cidade de Boston e eu aceitei logo de cara. É uma cidade grande e excelente para aqueles que curtem museus de história. Nesse dia, acabou que não deu tempo de visitar todos os lugares. Mas, uma dica valiosa: na parte principal da cidade, onde situam-se os pontos turísticos mais famosos, tem uma linha de tijolos vermelhos que ligam todos os pontos, de forma que você não se perca. O dia estava ensolarado e o clima estava bem agradável também. E sim, eu ainda irei voltar à Boston e completar o meu roteiro. 

     Da janela do meu quarto (na primeira host family), eu tinha a vista encantadora de uma floresta, assim como conseguia perceber como estava o tempo do lado de fora da casa. 
     Fiz algumas amigas (uma alemã, uma holandesa e um coreana) que me ajudaram muito desde o momento em que cheguei até o momento em que tive de partir. E, na minha última noite em Massachusetts, fomos jantar em um restaurante italiano, Olive' Garden, com direito à frozen yogurt e jogar conversa fora. O tempo off é um dos tesouros mais preciosos que uma au pair pode ter.
     Até que eu conseguisse conversar com a minha host mom sobre a comida, tive de comer no café da manhã e almoço muito bread with peanut butter and jelly. Quando estava realmente muito enjoada e comentei com a host mom ela me disse que poderia comer no café da manhã: bread with butter (imaginem a minha cara quanto à isso!). 
     E, quase no fim da última semana do mês, peguei o avião em direção à Ohio. 


     Agora que tudo mudou, estou ansiosa para completar o meu segundo mês por aqui! :)
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